BASE DE ACORDO
Coletivo Mulheres Resistem
Coletivo Mulheres Resistem
O Coletivo Mulheres Resistem se organiza de forma autônoma e independente, por acreditar que uma sociedade segura para as mulheres, um povo forte e livre de opressões só se constrói a partir do impulsionamento de espaços auto-organizados de mulheres de baixo e livres de machismo.
Sendo assim, no âmbito de suas convicções, coloca na sua pauta de todos os dias uma luta feminista classista, abraçando também princípios interseccionais, acreditando na união de mulheres pobres, pretas, periféricas, transexuais, travestis, trabalhadoras, desempregadas, estudantes e donas de casa, construindo o poder popular desde as periferias.
Nosso método de luta é a ação direta feminista e popular, por isso não participamos de campanhas eleitorais, nem paralisamos nossas lutas em favor de atuação politiqueiras ou outras atividades que nos invisibilizem ou invisibilize as nossas pautas. Nossa ação procura impulsionar o fortalecimento popular e está de acordo com aquelas formas que afirmem a independência na luta contra a dominação e exploração.
Por ser um coletivo local, o Mulheres Resistem prevê que sua simbologia seja assumida em outras localidades somente sob acordo da totalidade militantes que o compõe, devendo possíveis nucleamentos estaduais contemplarem em seus métodos de trabalho os nossos princípios, além de reuniões e repasses periódicos.
Princípios e bandeiras de luta
Todos os dias de nossas vidas, desde nossa criação, levamos princípios que nos orientam e fazem parte do nosso caráter enquanto pessoa. Acreditamos que os princípios também se fazem necessários nas organizações coletivas e movimentos populares, nos mostrando o caminho de nossa luta.
Sendo assim, para a construção de um feminismo autônomo, classista, nãoexcludente e combativo, abraçamos princípios, tarefas e lutas diárias como:
Sendo assim, para a construção de um feminismo autônomo, classista, nãoexcludente e combativo, abraçamos princípios, tarefas e lutas diárias como:
Autonomia e Participação coletiva: Prezamos pela autonomia e nossa autoorganização, não ficando a cabo de outros companheiros ou organizações irmãs as decisões finais acerca de nossas pautas, nossas lutas e tudo que envolva nosso coletivo ou sua bandeira. Mulheres que não integram nosso coletivo e homens são bem-vindos em nossas atividades públicas, reuniões abertas e fileiras de luta desde que bem intencionados em aprender com a construção e desconstrução diária, falar e agir sem oprimir e nunca silenciar. Todas essas e esses têm direito à voz, deixando que as mulheres que integram o coletivo decidam. O método para tomarmos decisões em primeiro lugar é o consenso do grupo e em segundo a vontade da maioria, sempre depois da ampla liberdade de opinião de todas.
Democracia de base e Independência de classe: Dentro do coletivo, de nossas casas e vidas, queremos que todas tenham a chance de decidir em conjunto e comum acordo o que devemos fazer de nossas lutas e de nossas vidas, sem que ninguém, individualidades, marido, patrão, chefe, político, estado ou igreja nos diga o que fazer ou como nos portar.
Luta desde a periferia: Acreditamos que mesmo que todas as mulheres sejam oprimidas pelo machismo e patriarcado, as mulheres das periferias encontram em seu dia-a-dia problemas que vão muito além de uma violência meramente simbólica. Duplas ou triplas jornadas de trabalho, violências domésticas, violências sexuais, violências decorrentes de dependência financeira e assassinatos motivados pelo machismo (feminicídio).
Reconhecimento da necessidade de pautas específicas para as mulheres negras:No nosso dia-a-dia as mulheres negras, além do machismo, da hipersexualização e de ocupar a maior fração de trabalhadoras do mercado informal, precarizado e das fileiras de desemprego, enfrentam diariamente o racismo e os reflexos de uma vida abaixo da linha da pobreza nas periferias, sendo as maiores vítimas de sofrem violência institucional em espaços públicos, como instituições de saúde e educação, violências domésticas, sexuais e feminicídios.
Acolhimento das mulheres transexuais e travestis em nossas fileiras: Acreditamos que apesar de não designadas mulheres ao nascer, mulheres trans e travestis levam consigo todas as consequências de reinvindicarem a autonomia de ser quem querem ser. Colocadas às margens da sociedade, são excluídas do mercado de trabalho e vistas como personagens exóticas ou caricatas, que devem viver apenas de prostituição. Sendo assim, essas pessoas vem sendo obrigadas a submeterem-se a condições subumanas para garantir o pão de cada dia, sendo tão vítimas do machismo e do patriarcado como qualquer uma de nós. Acreditamos assim que as mulheres só serão verdadeiramente livres quando empáticas e colocarem-se lado a lado a todas que tem no horizonte o mesmo inimigo.
Machistas devem permanecer à direita: Acreditamos que machistas e todos aqueles que nos oprimem, negam-se à autocrítica diária e subjugam a capacidade das mulheres em quaisquer âmbitos, não devam estar ao nosso lado. Rechaçamos qualquer tentativa de silenciamento, abafamento de nossas vozes nos movimentos de esquerda, acobertamento ou cumplicidade de companheiros opressores nos espaços públicos ou privados de nossa vida. Para nós, não existe diferenciação de postura dentro ou fora dos espaços de militância.
(Des)educação de gêneros: Acreditamos em uma sociedade que eduque suas crianças e adolescentes em seio de liberdade, desde cedo ensinando-lhes valores que correspondam à autonomia de todas e todos, pela deseducação dos papéis de gênero e pelo direito de se a amar quem quiser.
Pelo direito da mulher à sua saúde: Defendemos o direito de todas as mulheres aos seus corpos. Pelo acesso digno à saúde, pelo direito de contar com todos os recursos disponíveis para não engravidar, pela educação em saúde autônoma e libertadora para que lhes garantam informação, pela descriminalização do aborto para que mulheres pobres não morram diariamente e, quando desejarem engravidar, pela maternidade ativa, consciente, acesso à serviços humanizados e livres de violências obstétricas e institucionais.
Direito ao trabalho, condições dignas laborais e equidade nos salários: Em um sistema econômico voltado à exploração compulsória das classes trabalhadoras e oprimidas, cujos refluxos reproduzem um cenário de ainda maior precarização, subemprego, desemprego e miséria, são as mulheres as maiores prejudicadas. Além de se virem obrigadas a “provar” maior resistência, sofrem com salários 30% inferiores em relação aos homens, além da discriminação nas (já injustas) seleções, abuso moral, agressões verbais e até mesmo físicas em ambiente de trabalho. Reivindicamos trabalho, equidade salarial, condições dignas de atividade laborial e de vida, além de locais de trabalho livres de violência e de ataques à saúde física e mental da mulher trabalhadora.
Direito à maternidade e militância ativa: Pelo acesso de mulheres mães aos espaços públicos e privados de militância sem culpa ou julgamentos, pela participação ativa dos demais companheiros nos cuidados com as crianças durante suas atividades, pela não invisibilização dessas mulheres nas divisões de tarefas em nosso meio. Pelo acesso de mulheres à creches e escolas dignas, para que a maternidade não seja uma prisão em si e em papéis sociais designados apenas para as mulheres.
Pela desconstrução do amor romântico: Pela desconstrução de todas as formas de amar que impulsionem culpa, sentimentos de posse ou opressões. Pela quebra dos ciclos viciosos dos relacionamentos abusivos e violências psicológicas.
Poder Popular: Acreditamos que a luta pela libertação das mulheres caminha lado a lado com a luta pela libertação humana. A grande maioria da população sofre dentro de nossa sociedade a opressão daqueles que dominam (patrões, banqueiros, grandes empresários e governos). Para derrotar o projeto dessa minoria somente com a união dos que sofrem a opressão e a partir dessa união disputar um projeto de poder que beneficie o conjunto da sociedade e não a pequena minoria opressora. Esse projeto que surge da maioria oprimida chamamos de Poder Popular.
Sendo assim, nos unimos num projeto que priorize as mulheres de baixo e à esquerda, unidas às lutas a partir dos locais de trabalho, de estudo, de moradia... Todas e todos pelo fim de todos os tipos de opressões. Pela construção de uma sociedade livre e pelo poder popular, Mulheres Resistem!