sábado, 25 de julho de 2020

As mulheres pretas e a luta cotidiana, uma memória ao dia 25 de Julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, e Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha.

O processo de escravidão iniciado a partir da colonização do Brasil foi marcado pela objetificação e mercantilização de homens e mulheres pretas, sendo instituído todo um sistema de dominação e exploração de sua força de trabalho e de suas vidas. Esse mesmo sistema construiu e determinou nossa identidade nacional, que é o total oposto da suposta ideia de existência de uma “democracia racial” na sociedade brasileira.

No período colonial, a exploração dos corpos das mulheres pretas, ia muito além de mão de obra de trabalho escravo, essas mulheres sofriam violência sexual, eram obrigadas a abandonar seus filhos, entre tantas outras violências. A construção histórica da identidade da mulher preta e a violência sexual perpetrada no período colonial refletem o modo como as relações de gênero e raça configuram-se atualmente. As relações sociais em nossa sociedade, ainda retratam o período da escravidão.

Mulheres pretas ainda exercem trabalhos mal remunerados e com péssimas condições de trabalho, além de ocuparem a maior fração do mercado de trabalho informal e as fileiras do desemprego; mulheres pretas fazem parte de uma parcela pobre, periférica e oprimida da nossa sociedade, com maior dificuldade de acesso à educação e à cultura; mulheres pretas sofrem muito mais com a normatização de um ideal de beleza eurocêntrico imposto, que violenta os corpos dessas mulheres, e carrega um estereótipo de beleza que afeta o modo como a mulher preta se enxerga, afeta seu pertencimento e sua identidade de descendência, forçando mudanças visuais e estéticas para que essa mulher passe por um processo de embranquecimento para enquadrar- se e ser aceita socialmente, em suas relações afetivas, até o processo de entrada no mercado de trabalho; mulheres pretas têm que ver seus filhos e companheiros mortos pela política genocida do estado; mulheres pretas são as maiores vítimas de violência doméstica, de violências sexuais e feminicídios; mulheres pretas trans, travestis, lésbicas, lgbtqia+ estão no topo dos índices de pessoas assassinadas. 

A luta das mulheres pretas tem questões que o feminismo eurocêntrico ainda não conseguiu se apropriar e conceber forças e meios de luta para o combate às explorações e opressões contra as mulheres. A luta das mulheres pretas ultrapassa a luta contra a opressão masculina, as mulheres pretas ainda precisam lutar contra o preconceito racial, contra a pobreza e a exploração, contra a homofobia e a transfobia, contra o extermínio de seus corpos, de seus filhos, contra jornadas de trabalho extenuantes e mal remuneradas. 

Assim, nos questionamos: que mulheres foram favorecidas pelas conquistas feministas na sociedade brasileira?

Além de nos debruçar sobre a variável gênero e a busca pela superação da construção histórica da dominação masculina, devemos articular e unir nossas forças em uma luta que esteja atravessada por elementos de classe, raça e sexualidade. Só seremos libertas da opressão se todos os tipos de opressão forem eliminados. Só quando entendermos que existem formas complementares de dominação e exploração que dão corpo e fortalecem a opressão de gênero vivida cotidianamente pelas mulheres, podemos alcançar a real unidade na luta. A liberdade da mulher só virá com a libertação humana!

Esse texto é uma lembrança de luta em referência ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, e ao Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, 25 de Julho, um dia de trazer visibilidade e fortalecer a luta das mulheres. Na resistência e na luta do povo preto no Brasil, é inegável o protagonismo e a importância da mulher preta na luta contra a escravidão e na formação dos quilombos. Resgatar o papel histórico da mulher preta na luta por uma sociedade mais justa, igualitária e livre de opressões é fundamental para o fortalecimento da luta feminista no Brasil. 

MULHERES RESISTEM! 

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