Ciúme? Amor? Rejeição?
Cuidado? Quando um crime deixa de ser passional? O Hospital Geral do Estado de
Alagoas (HGE) registrou 385 casos de agressão contra mulheres que necessitaram de
atendimentos especializados neste serviço em 2010, uma média de 1,05 agredidas
por dia e 32,08 ao mês. Em 2011, somente no primeiro semestre, já foram
notificados aproximadamente 600 casos desse mesmo tipo de violência, dados
esses que confirmam que 4 entre 10 mulheres já sofreram algum tipo de violência
doméstica no Brasil.
Em Maceió, capital do
estado de Alagoas, neste mesmo primeiro semestre de 2011 nos deparamos não
somente com casos de violência. Muito além da agressão, chocaram a sociedade
não simplesmente pelo fato de serem assassinatos, mas pela forma odiosa de
matar, como os cinco assassinatos em pouco mais de 3 dias, nos quais todas as
vítimas eram mulheres, mutiladas e até mesmo decapitadas, jogadas em vias
públicas.
Há 5 anos da entrada em
vigor da Lei Maria da Penha ainda não tivemos números significativos de ações
que prestigiassem a divulgação da mesma para as mulheres que mais precisam,
refletidas no índice de denúncias realizadas em contraponto ao número de
agressões sofridas, e ainda são comuns os casos onde agressores proibidos de
aproximar-se da vítima são os mesmos responsáveis pela sua morte.
Os reais motivos da
agressão contra a mulher ainda são omitidos pelo senso comum, que justifica a
submissão da mulher ao seu agressor pelo apreço que ela supostamente tem em ser
violentada. Não precisamos ir muito longe para descobrir que essas motivações,
na verdade, envolvem medo, sentimento de posse por parte do agressor, falsa
concepção de poder e total força que o machismo ainda encontra numa sociedade
patriarcal como a sociedade capitalista.
Nesta mesma sociedade e em
pleno século XXI encontramos muitas formas de exercitar o conformismo e a
cegueira coletiva às opressões ainda tão presentes. A mídia de massa ainda
encontra formas sutis de praticar apologia à violência contra a mulher, como é
o caso da nova onda de humor preconceituoso, onde ser estuprada é motivo de
“graça” (quase que uma benção) e ser assediada no metrô é motivo pra ficar
contente, afinal, não segue os padrões de beleza pré-estabelecidos socialmente;
formam-se assim opiniões acríticas, preconceituosas acerca do papel da mulher
na sociedade e no humor: a piada.
Não é só pela televisão
que esse conteúdo chega às massas, os mais privilegiados no sentido da
informação rápida e abundante, os internautas, ainda são muito influenciados
pelo acesso direto às pessoas responsáveis por esse tipo de informação
aparentemente inofensiva e lúdica, e acabam “disseminando” sem senso crítico o
que deveria ser abominável, transformando-o em algo banal.
E é nessa lógica de
banalidade que 87% dos agressores de mulheres são seus atuais ou
ex-companheiros, que se acharam no direito de humilhá-las, espancá-las e até
assassiná-las. Os demais 13% são os que quebram o braço de garotas que não
querem dançar com eles nas boates, os que compartilham um “Manual para entender
as mulheres” que deixa claro que Não = Sim, ou os que vêem numa saia curta um
letreiro luminoso com os dizeres “ESTUPRE-ME”.
Dedicamos estas palavras,
quase gritos de liberdade, a todas as mulheres que se sentem vitimizadas pelo
machismo e pela limitação de pensamento provida pelo capitalismo. Precisamos de
políticas sociais voltadas para a superação da impunidade dos agressores, por
meio da divulgação das penalidades e oportunidades de denúncia que muitas
mulheres ainda desconhecem. Cabe à sociedade o despertar para uma realidade que
exige a sua organização e mobilização em prol de manifestações de suas
necessidades e direitos.
Somente na luta classista e combativa somos capazes de
fazer nós mesmos o que a nós nos diz respeito!
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