domingo, 20 de novembro de 2011

Mulher negra, mulher guerreira: a luta contra a opressão da escravidão aos dias atuais


O processo de escravização iniciado a partir da colonização do Brasil transformou homens e mulheres negros(as) em objetos/mercadorias, sendo instituído todo um sistema de dominação e exploração de sua força de trabalho; sistema esse que construiu e determinou nossa identidade nacional, a qual vem na contramão da consolidada idéia de “democracia racial” vigente em nossa sociedade.
A mulher negra, particularmente, no período colonial tinha a função de servir a seus “donos”, em todos os aspectos, seja com trabalhos domésticos ou como objeto sexual. Assim, a construção histórica da identidade da mulher negra e a violência sexual perpetrada no período colonial refletem o modo como as relações de gênero e raça configuram-se atualmente. As relações sociais em nossa sociedade, ainda retratam o período escravista.
As mulheres negras ainda exercem trabalhos servis (empregada doméstica, babá, cozinheira, etc.), fazem parte da parcela da sociedade (pobre, periférica e oprimida) que tem menos acesso (ou não tem) à educação e à cultura; sofrem muito mais com o padrão de beleza normatizado e imposto (modelo da mulher branca), pois o estereótipo de beleza vigente determina desde o modo como a mulher negra se enxerga, enquanto pertencente a uma descendência com características físicas peculiares – e, portanto, que mudanças visuais e estéticas se impõem para enquadrar-se e ser aceita socialmente –, até a aquisição de uma vaga o mercado de trabalho (quantos não são os anúncios de emprego que exigem “boa aparência”?).
Desse modo, a luta das mulheres negras tem questões que o feminismo clássico (tomando como referência o feminismo europeu), ao trabalhar a opressão feminina, ainda não conseguiu se apropriar e engendrar forças para sua superação. Isso acontece porque a luta das mulheres negras está para além da luta contra a opressão masculina; as mulheres negras ainda precisam lutar contra o preconceito racial e, por que não dizer também, contra a pobreza e a exploração que as mantêm reféns de trabalhos servis, extenuantes e mal remunerados. Assim, nos questionamos: que mulheres as conquistas feministas, na sociedade brasileira, favoreceram?
Mais que voltarmo-nos para a variável gênero e a busca pela superação da construção histórica da dominação masculina, devemos articular e aglutinar nossas forças na luta relacionada às questões de classe e raça também. Só seremos libertas da opressão se todos os tipos de opressão forem eliminados. Só assim alcançaremos a real unidade na luta das mulheres, quando entendermos que existem formas complementares de dominação e exploração que dão corpo e fortalecem a opressão de gênero vivida cotidianamente pelas mulheres. A liberdade da mulher só virá com a libertação humana!
A feminista norte-americana Patricia Collins elege alguns “temas fundamentais que caracterizariam o ponto de vista feminista negro”.  Entre eles, se destacam: o legado de uma história de luta, a natureza interconectada de raça, gênero e classe e o combate aos estereótipos ou “imagens de autoridade”.
Acompanhando o pensamento de Patricia Collins, Luiza Barros usa como paradigma a imagem da empregada doméstica como elemento de análise da condição de marginalização da mulher negra. Conclui, então, que “essa marginalidade peculiar é o que estimula um ponto de vista especial da mulher negra, (permitindo) uma visão distinta das contradições nas ações e ideologia do grupo dominante”. “A grande tarefa é potencializá-la afirmativamente através da reflexão e da ação política”.
Desse modo, trazemos como símbolo da resistência e da luta dos negros no Brasil, de modo geral, e das mulheres negras, em particular, o dia 20 de novembro. É inegável o protagonismo e a importância da mulher negra na luta contra a escravidão e na formação dos quilombos. Resgatar o papel histórico da mulher negra na luta por uma sociedade mais justa, igualitária e livre de opressões é imprescindível para o fortalecimento da luta feminista no Brasil. 

Por uma sociedade multirracial e pluricultural, onde as diferenças se tornem equivalência e não mais subordinação!

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