O Guerreiro é um auto natalino que tem o sincretismo religioso e cultural em suas peças e em suas danças, criado em finais da década de vinte do século de XX. “Um Reisado Moderno”, como definiram estudiosos da cultura popular alagoana.
Da fusão dos caboclinhos (dança), do reisado, de elementos afro-religiosos e do catolicismo popular, surgiu o Guerreiro. Uma das características dessa dança tradicional de nossa terra são os diversos personagens que a compõe, entre eles: rainhas, reis, bumba meu boi e o índio Peri. Cabe ressaltar que quem fica à frente do grupo é o mestre o contra-mestre. Geralmente, os folguedos tradicionais da cultura alagoana são regidos ou conduzidos por homens, contudo fato interessante é que existe em Teotônio Vilela um grupo de Guerreiro em que suas lideranças são duas senhoras e neste espaço nos dedicaremos ele: o “Guerreiro Vilelense Mimo do Céu”.
Este grupo possui como criadora, coordenadora e mestra, a dona Cícera. Essa representante da arte alagoana, desde criança contribuiu para a valorização deste folguedo, não se conformando com a ausência de políticas públicas de incentivo ao Guerreiro mestra Cícera (com aproximadamente 70 anos de idade), organizou o primeiro e único Guerreiro da cidade ( na zona da mata alagoana). Juntamente com sua contra-mestre, Dona Francisca, as mesmas confeccionam, com recursos próprios, os adereços usados nos ensaios e apresentações.
Em uma sociedade onde prevalecem os valores patriarcais e machistas, em que a mulher muitas vezes era impedida de se organizar, dona Cícera levou o Guerreiro para todos os lugares onde pode, mesmo contra a vontade de seu ex-marido ficou à frente dessa dança.
A atual formação do grupo é de 25 crianças e adolescentes, sendo 24 meninas, que olham na imagem da dona Cícera e da dona Francisca um exemplo de dedicação e autonomia feminina, em uma sociedade em que a mulher e as manifestações culturais são subestimadas pelo meio público e privado.
O desejo é de que essas meninas, dentro do folguedo, produzindo e propagando a arte e cultura alagoana e, acima de tudo, possam conviver em um espaço de interação, o qual lhes seja permitido e incentivado ser protagonistas de sua própria história.
*Fragmento de pesquisa, escrito por Juliana Gonçalves, graduanda em História na Universidade Federal de Alagoas. Cedido pelo autora.
Imagens: Arquivo pessoal da pesquisadora.
Imagens: Arquivo pessoal da pesquisadora.
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