sexta-feira, 24 de abril de 2020

ISOLAMENTO SOCIAL, PAPÉIS DE GÊNERO E A EXPLORAÇÃO DAS MULHERES.


Não é nenhuma novidade que há uma desigualdade marcante no que diz respeito aos papéis de gênero em nossa sociedade. Desde cedo nossas crianças são ensinadas e cercadas por valores que demarcam uma constante exploração e submissão das meninas e mulheres à situações de violência e abuso.
No que diz respeito aos nossos lares, isso não é diferente. As tarefas domésticas são culturalmente impostas às mulheres, assim como o cuidado e a educação das crianças, e o cuidado com idosos da família. Além dessa demanda constante dentro das casas, as mulheres têm se dividido entre os ambientes de trabalho e doméstico, sendo constantemente sobrecarregadas e encarando muitas vezes uma dupla jornada. Quando uma mulher chega em casa após mais um dia de trabalho, ela pratica seu segundo emprego, não-remunerado: compra comida, cozinha, limpa, e lava a louça, além de planejar, coordenar e antecipar necessidades de todos da casa.
No atual contexto da pandemia do Coronavírus, como ficam as mulheres camponesas, trabalhadoras informais, estudantes e assalariadas, em situação de isolamento social? Temos que considerar também, a necessidade que muitas mulheres têm de continuar suas atividades de trabalho, mesmo com o risco de se contaminarem e contraírem a covid-19, numa tentativa de não expor suas famílias à fome e ao desabrigo, ou até mesmo por fazer parte de serviços considerados essenciais.
Muitas dessas mulheres são chefes de família, sendo as únicas responsáveis pela renda de seus lares. Muitas delas, idosas, cuidam sozinhas dos netos, ou ajudam os filhos nesse cuidar para que eles procurem emprego. São as avós, grupo de risco, que muitas vezes dividem com as mães o cuidado das crianças, enquanto os pais se negam a dividir essa responsabilidade. Essa rede de apoio acaba sendo afetada nesse momento do isolamento social na pandemia.
Além de estarem enfrentando salários desiguais, e uma onda crescente de desemprego no país, o que gerou a necessidade de ingressar no mercado informal, muitas mulheres estão sendo dispensadas de seus empregos agora no cenário da pandemia. Empregadas domésticas, trabalhadoras da indústria, do comércio e do transporte, estão agora em situação de insegurança financeira, na expectativa do auxílio deficiente do governo, pra que possam cuidar de suas famílias.
Com as escolas e creches fechadas, os filhos em casa, e a expectativa de que as mulheres estejam à frente do trabalho doméstico e do cuidado com as pessoas da família, baseada em uma divisão desigual de papéis de gênero, mais uma vez as mulheres são expostas à uma situação de exploração, que somada à incerteza gerada pelo cenário da pandemia, tem acentuado a carga psicológica à qual essas mulheres são expostas todos os dias.
Diariamente, as comunidades têm se organizado para a construção de espaços que possam oferecer condições de contornar essas dificuldades. Na busca por condições de vida digna, através de cooperativas e coletivos, de maneira independente e descentralizada, e através das relações de trabalho, toda a comunidade participa e contribui como pode. Com o cenário da pandemia, muitas comunidades vêm dando exemplos de auto-organização para monitorar os casos suspeitos, e cuidar das pessoas doentes, dando exemplos de solidariedade, costureiras se juntam para produzir máscaras de tecido, cada uma de sua casa, para serem distribuídas para os moradores, além dos esforços para garantir que essas famílias não passem fome.
Quais as alternativas disponíveis para as mulheres dessas comunidades enfrentarem a pandemia do coronavirus, com segurança, sem colocar suas vidas e de suas famílias em risco?
O direito das mulheres à autonomia, trabalho, educação, saúde, vida digna, e deseducação dos papéis de gênero, é pauta constante de nossa luta!
MULHERES RESISTEM!

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